terça-feira, 23 de agosto de 2011

Uma bula para as bulas

Quando se fala em divulgação científica, não se deve pensar apenas no que se produz nos veículos tradicionais de comunicação. Toda e qualquer oportunidade de transmitir informações ou conhecimentos direta ou indiretamente ligados à ciência não deixa de estar inserida no universo contemplado pela divulgação científica, sobretudo se isso é feito com clareza e consistência.

Uma bula de remédio, tal qual redigida usualmente, com linguagem intrincada e, portanto, praticamente incompreensível para muitos de seus usuários, é um clássico antiexemplo de como transmitir informações de teor científico. Contudo, uma ótima notícia nos foi dada pelo Jornal Hoje, da Globo, no sábado passado, dia 20 de agosto: estudantes da Universidade de Brasília montaram um manual sobre medicamentos que pode ser consultado pela internet. É uma iniciativa que complementa determinação da própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), segundo a qual os laboratórios devem redigir bulas mais simples (400 estão prontas).

Mais detalhesinclusive os links para o manual da UnB e o site da Anvisa – na páginaUniversitários reescrevem textos das bulas de remédios”, do JH.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

São Paulo: cidade e identidade em demolição

Poucas coisas me deixam mais indignado, hoje em dia, do que ver quarteirões inteiros de casas derrubados para dar lugar a edifícios imponentes, cujos muros mais parecem de fortalezas medievais, em diferentes bairros de São Paulo – imagino que outras cidades brasileiras devam sofrer do mesmo problema.

Muitos dirão que é o progresso, que a construção civil é um ramo vital para a nossa economia, que milhares de empregos são gerados, etc. e tal. Mas se esquecem de que, com os prédios recém-construídos, mais gente se acumula numa única quadra, cresce a demanda por serviços mais eficientes de eletricidade, água e esgoto, o trânsito aumenta, a poluição também, e o caos se instala ou se reforça onde parecia não mais ser possível a coisa piorar.

E digo mais: casas de alto valor arquitetônico são destruídas e bairros inteiros são descaracterizados, ameaçando tirar da maior cidade do hemisfério sul um dos elementos que mais lhe conferem graça e beleza, apesar de seus imensos problemas: a variedade de estilos de seus casarios, refletindo o caldeirão cultural paulistano. Ainda se pode dizer que cada bairro de São Paulo tem a sua cara – mas até quando?

O Estado de S. Paulo revela que 4.713 casas e galpões industriais deram lugar, nos últimos quatro anos e meio, a nada menos que 155.610 apartamentos na capital paulista, como se pode ver na matéria “3 imóveis são demolidos por dia em SP”, que é capa da edição de hoje do caderno Metrópole do jornal.

Se calcularmos que uma família paulistana comporta em média três pessoas, e supondo – no chute mesmo – que, dos 4.713 imóveis demolidos, cerca de 4.500 fossem casas, São Paulo se adensou mais de 450 mil residentes nos locais em que os novos empreendimentos foram levantados.

Ademais, numa cidade carente de centros esportivos, científicos e culturais, poucos são os galpões convertidos em locais que possam gerar riqueza não a incorporadoras e construtoras, mas sim à população como um todo, na forma de “mini-Sescs” ou “mini-Estações Ciência”, como pregava o inesquecível Crodowaldo Pavan, cientista dos mais eminentes que já tivemos e que tive o prazer de conhecer.

Onde tudo isso vai parar? De pouco adianta se discutir o plano diretor da cidade se a corrupção grassa vergonhosamente nas intersecções entre o poder público e o mercado imobiliário. Além disso, os próprios moradores das casas a serem demolidas acabam conquistados pelas atraentes propostas das incorporadoras, muitas vezes sem esboçar qualquer reação contrária.

As esperanças são poucas, infelizmente.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

A primeira impressão... é a que não fica

Você já ouviu falar em flexoeletricidade? Ou em efeito flexoelétrico? Físicos e engenheiros talvez digam sim e até deem explicações muito melhores do que as minhas, mas o fato é que fui apresentado ao termo estes dias e isso me ocasionou um misto de surpresa e decepção.

Surpresa por passar a conhecer esse efeito, cuja descrição me pareceu das mais interessantes: ao se flexionar um cristal, suas camadas atômicas são esticadas cada qual em uma intensidade diferente, criando um “gradiente de tensão” que pode movimentar íons no cristal, de modo a gerar um campo elétrico. (Espero ter sido claro.)

E decepção porque o título da matéria, que encontrei quase por acaso – navegando mesmo – num site mantido por uma empresa privada, promete muito mais do que devia: “Flexoeletricidade: cristal sintético é produzido para gerar energia”. Fiquei empolgado quando vi o título, quase gritei “Os cristais nos livrarão das sujas termelétricas e das devastadoras usinas nos rios!”... Enfim, que gera energia gera, mas a impressão que fica é outra.

Quem sabe um dia, talvez em 2317, nossas TVs, computadores e geladeiras sejam movidos por cristais – ou até que aprendam a redigir títulos mais apropriados, o que deve ocorrer só no quinto milênio.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Coisa de outro mundo!

Interesso-me bastante por ufologia, e sou entusiasta da ideia de que não apenas estamos acompanhados neste imenso universo, mas igualmente temos sido visitados por nossos “vizinhos”, a despeito das condições fisicamente improváveis de viagens interestelares. No entanto, não dispenso a prudência e o discernimento ao analisar avistamentos de objetos voadores não identificados (os chamados óvnis, ou ufos, conforme a grafia inglesa, termos já dicionarizados em nosso idioma) ou relatos de contatos com supostos seres extraterrestres.

Dias atrás me perguntaram a respeito do objeto visto no céu noturno de Embu das Artes, município da Grande São Paulo. Um óvni sem dúvida de visual muito interessante, colorido, vistoso. Mas a meu ver com uma característica fundamental que colocava em xeque a tese de ser uma nave espacial, ao menos segundo o que foi mostrado em vídeos: o fato de ficar praticamente parado, quase sem movimento algum. As filmagens mais convincentes que vi até hoje, na internet e em programas diversos da televisão, mostravam objetos em altíssimas velocidades e se movendo de maneira surpreendente, com manobras virtualmente impossíveis para aviões, helicópteros, satélites, balões, meteoritos ou qualquer outro veículo ou objeto fabricado ou conhecido pelo ser humano. Não era o caso do óvni de Embu.

Minhas suspeitas foram confirmadas no último domingo, dia 7, pelo Fantástico, da Rede Globo (detalhes na reportagem “Fantástico descobre criador de ‘OVNI’ em Embu das Artes (SP)”). Não se encontrou nenhum ET, mas nos foi revelado um novo artista: o mecânico João Pelizari, de 42 anos, que criou uma nave-pipa envolta em LEDs, que dão uma iluminação especial ao objeto.

Não fiquei decepcionado, afinal de contas, pensando bem, não deixamos de descobrir um ET: o extratalentoso João de Embu das Artes (ou melhor, João e suas artes).