Muitos dirão que é o progresso, que a construção civil é um ramo vital para a nossa economia, que milhares de empregos são gerados, etc. e tal. Mas se esquecem de que, com os prédios recém-construídos, mais gente se acumula numa única quadra, cresce a demanda por serviços mais eficientes de eletricidade, água e esgoto, o trânsito aumenta, a poluição também, e o caos se instala ou se reforça onde parecia não mais ser possível a coisa piorar.
E digo mais: casas de alto valor arquitetônico são destruídas e bairros inteiros são descaracterizados, ameaçando tirar da maior cidade do hemisfério sul um dos elementos que mais lhe conferem graça e beleza, apesar de seus imensos problemas: a variedade de estilos de seus casarios, refletindo o caldeirão cultural paulistano. Ainda se pode dizer que cada bairro de São Paulo tem a sua cara – mas até quando?
O Estado de S. Paulo revela que 4.713 casas e galpões industriais deram lugar, nos últimos quatro anos e meio, a nada menos que 155.610 apartamentos na capital paulista, como se pode ver na matéria “3 imóveis são demolidos por dia em SP”, que é capa da edição de hoje do caderno Metrópole do jornal.
Se calcularmos que uma família paulistana comporta em média três pessoas, e supondo – no chute mesmo – que, dos 4.713 imóveis demolidos, cerca de 4.500 fossem casas, São Paulo se adensou mais de 450 mil residentes nos locais em que os novos empreendimentos foram levantados.
Ademais, numa cidade carente de centros esportivos, científicos e culturais, poucos são os galpões convertidos em locais que possam gerar riqueza não a incorporadoras e construtoras, mas sim à população como um todo, na forma de “mini-Sescs” ou “mini-Estações Ciência”, como pregava o inesquecível Crodowaldo Pavan, cientista dos mais eminentes que já tivemos e que tive o prazer de conhecer.
Onde tudo isso vai parar? De pouco adianta se discutir o plano diretor da cidade se a corrupção grassa vergonhosamente nas intersecções entre o poder público e o mercado imobiliário. Além disso, os próprios moradores das casas a serem demolidas acabam conquistados pelas atraentes propostas das incorporadoras, muitas vezes sem esboçar qualquer reação contrária.
As esperanças são poucas, infelizmente.
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