quinta-feira, 28 de julho de 2011

A volta de um clássico

Não sou daqueles que acham que a TV é o mal maior da humanidade, mas sem dúvida muito pouca coisa se salva, especialmente se tentarmos encontrar algo que possa se alçado ao status de arte, mesmo sendo nossa teledramaturgia das melhores do planeta. Contudo, não conheço quem negue a excelência daquela que considero a melhor telenovela a que assisti, Roque Santeiro, de Dias Gomes e Aguinaldo Silva.

Exibida originalmente entre 1985 e 1986 (houve uma versão anterior, dez anos antes, podada pela censura), já foi reprisada duas vezes pela Globo e agora está sendo reapresentada pelo Canal Viva (36 da Net de São Paulo), desde o último dia 19, à 0h15, com o horário alternativo do meio-dia.

Tinha oito anos quando a acompanhei pela primeira vez, fiz o mesmo quando foi reexibida em 1991, consegui ver alguns capítulos em 2001 e estou tendo a sorte de ver os primeiros capítulos da novela em sua quarta apresentação. Estou simplesmente me deleitando – e dando boas risadas – ao rever Sinhozinho Malta, Viúva Porcina, Florindo Abelha e outras tantas excelentes personagens desse clássico de nossa televisão, tão bem interpretadas por atores do quilate de Lima Duarte, Regina Duarte, Ary Fontoura, Paulo Gracindo, José Wilker, Armando Bógus, Fábio Jr., Yoná Magalhães, Rui Rezende, Heloísa Mafalda, Ewerton de Castro, Patrícia Pillar e tantos outros.

Ademais, Roque Santeiro tem história marcante e texto dos melhores apresentados na TV brasileira, com trilha sonora de alta qualidade, tanto nas músicas como nos sons incidentais. Vale a pena conferir.

domingo, 24 de julho de 2011

Joia rara da humanidade

Há exatos cem anos, uma joia rara da humanidade nos era revelada, por intermédio do arqueólogo norte-americano Hiram Bingham. Refiro-me a Machu Picchu, bela e intrigante cidade que nos foi legada pelos incas, encravada nos Andes peruanos. Não tive ainda a oportunidade de conhecê-la pessoalmente, e nem teria muito o que falar sobre ela, ante a grandiosidade de suas formas e seus mistérios. Resta-nos apenas admirar, e por isso a homenageio e contemplo com sua suntuosa imagem:

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Bactérias do bem

Ao assistir ontem ao Jornal Hoje, da Globo, voltei a ouvir uma expressão muito usada no Núcleo José Reis de Divulgação Científica, onde trabalhei por longos anos: bactérias do bem. É verdade que a matéria do telejornal – intitulada “Alimentos probióticos contêm bactérias benéficas ao organismo” – dizia respeito a tipos diferentes de microrganismos, mas minha memória voltou a 1998, quando redigi um texto, no boletim Informativo JR, do próprio NJR, sobre as bactérias fixadoras de nitrogênio endófitas, pesquisadas originalmente pela brasileira Johanna Döbereiner, que estavam sendo estudadas também por Crodowaldo Pavan, coordenador de divulgação do Núcleo, e Carlos A. Moreira-Filho, no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.

Tive a honra – talvez a maior nesse aspecto – de ter minha matéria citada na coluna “Periscópio”, de ninguém menos que José Reis – o maior divulgador de ciência que já tivemos em nosso país, falecido quatro anos depois –, no caderno Mais!, da Folha de S.Paulo, em 05 de julho daquele ano.

Pavan, um dos maiores geneticistas da história da ciência, ex-presidente de importantes entidades como a SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), fundada por Reis, e o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), ainda viria a descobrir outras “bactérias do bem”, inclusive em ovos de galinha, reportadas em textos de outros autores do Núcleo J. Reis. Infelizmente faleceu em abril de 2009, sem que soubéssemos exatamente a que ponto chegaram suas pesquisas mais recentes.

Com saudades daqueles tempos em que convivíamos com gente do porte de Reis e Pavan, reproduzo a imagem da “Periscópio” de 05/07/98, retirada do Acervo Folha – como não encontrei o exemplar da época, que guardei não sei onde, a fim de digitalizá-lo, teremos de nos contentar com a falta de nitidez na leitura de alguns parágrafos. Também os convido a acessarem a página “Textos pré-blog” para lerem a matéria que escrevi à época.

Imagem e ciência

De uns tempos para cá, o Google tem trocado seu logotipo, em sua página inicial, por imagens que, mesmo preservando as letras de seu nome, fazem referência a alguma data especial ou homenageiam celebridades nos dias em que fariam aniversário. Ontem, 20 de julho, foi a vez de prestar homenagem a Gregor Mendel, monge e cientista austríaco, exatamente 189 anos após seu nascimento.

O doodle – como é chamada a imagem modificada do logo do Google – dedicado àquele que é considerado o pai da genética remete às ervilhas usadas em seus experimentos, cujas conclusões o fizeram propor a existência dos genes. Além disso, ao se clicar na imagem, automaticamente se tinha acesso à busca por páginas sobre Mendel.

Não apenas por permitir que se navegue por sites que têm a ciência como tema, mas igualmente pela imagem exibida a todos que entraram ontem no sítio do Google – sem dúvida milhões, ou quem sabe bilhões de pessoas –, faz-se divulgação científica das mais eficazes. Se um texto permite consolidar um conhecimento, uma boa imagem ajuda muito a despertar a curiosidade e a se criar um vínculo com o saber divulgado que ultrapassa o campo do meramente racional.

Se por um lado a internet tem crescido em qualidade com recursos como a Wikipédia, que hoje apresenta verbetes dignos das melhores enciclopédias, por outro não se pode prescindir de fotos, ilustrações e histórias em quadrinhos para se divulgar ciência de modo a se gostar dela. Um exemplo é o do cartunista João Garcia, o Jão, autor de tiras como esta, que produz há anos, na série “Os Cientistas em Quadrinhos”:

Pode parecer pouco, mas uma boa imagem muitas vezes vale mais que mil informações mal articuladas.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Prêmio José Reis de Divulgação Científica

Pouco tenho conseguido, nos últimos anos, acompanhar – mesmo via internet – os veículos de imprensa de fora da capital paulista, onde resido. Costumo justificar que mais vale ler pouco, porém bem – se é que tenho atingido esse objetivo, tamanha a quantidade de compromissos e afazeres, incluindo a manutenção deste blog –, do que ler muito e mal. Claro que preferiria ler muito e bem, mas... contentemo-nos com o que nos seja possível.

Divagações à parte, o fato é que vi com muito bons olhos, mesmo não podendo acompanhar seu trabalho como gostaria, o anúncio de Ana Lucia Azevedo, editora de Ciência e História do jornal O Globo, do Rio de Janeiro, como vencedora da 31ª edição do Prêmio José Reis de Divulgação Científica, do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), na categoria “Jornalismo científico”. A láurea lhe foi entregue no último dia 10, na abertura da 63ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), em Goiânia.

No jornal carioca há 23 anos, Ana Lucia já publicou mais de mil reportagens sobre temas ligados à ciência, além de séries e cadernos especiais sobre meio ambiente, arqueologia, biotecnologia, física e história, entre outras áreas. Recebeu diversos prêmios da mídia nacional e estrangeira, entre eles o Prêmio Esso de Jornalismo, categoria de informação científica, ambiental e tecnológica, em 2002. Foi também uma das criadoras da primeira seção dedicada exclusivamente à história num jornal diário brasileiro, em 2007.

Ana Lucia Azevedo junta-se agora ao seleto grupo de ganhadores do Prêmio José Reis – que homenageia aquele que é considerado o mais importante divulgador científico da história de nosso país –, do qual fazem parte nomes de peso, como Julio Abramczyk, Maria Julieta S. Ormastroni, Marcelo Gleiser, Marcelo Leite, Ethevaldo Siqueira, Martha San Juan França, José Hamilton Ribeiro, Samuel Murgel Branco, Roberto Lent, Ângelo Machado, Ernst Hamburger, Hitoshi Nomura, Ronaldo Rogério Mourão e Oswaldo Frota-Pessoa, entre outros tanto, sem contar as instituições, que a cada três anos são contempladas.

Acho, porém, talvez pensando em sua 35ª edição, em 2015, que o prêmio deve ser ampliado, indo além das três categorias hoje existentes, que se revezam ano a ano – além de “Jornalismo científico” e “Instituição ou veículo de comunicação”, há também “Divulgação científica e tecnológica”, destinada a pesquisadores e escritores. A ideia não é minha – a primeira vez que a ouvi foi do amigo Osmir Nunes, presidente da Abradic (Associação Brasileira de Divulgação Científica, que participa da comissão julgadora), com quem trabalhei no Núcleo José Reis de Divulgação Científica. Está na hora de se pensar em contemplar separadamente, por exemplo, programas de rádio, iniciativas de cunho educacional, documentários, reportagens avulsas, sítios da internet, grupos que atuam em redes sociais, ONGs, entre outras possíveis modalidades, sem deixar de haver, digamos, um “Grande Prêmio”, como atualmente, que poderá agraciar ou não alguém que tenha ganhado em outra categoria.

Outra possibilidade é a de se receber indicações – e não somente inscrições, como ocorre hoje –, seja do grande público, seja de pessoas que atuam como divulgadores ou entendem de divulgação científica.

Enfim, está lançada a ideia. Imagino que o CNPq sozinho talvez não possa concretizá-la, mas com a participação de outras entidades quem sabe esse sonho venha a se realizar. Estou certo de que José Reis aprovaria.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Arte-ciência ou ciência-arte?

Se me perguntassem hoje qual o artista que mais tem algo a ver com ciência, diria, sem pestanejar: Escher! Poderia estar sendo injusto com outros tantos nomes das artes, entre os quais Rembrandt e suas lições de anatomia, além, é claro, de Leonardo da Vinci. Mas penso que, enquanto o mestre florentino sobretudo usava da arte para fazer ciência, com seus célebres esboços de máquinas e corpos, o holandês Maurits Cornelis Escher (1898-1972) lançava mão dos preceitos científicos para fazer arte. E manejava habilmente não apenas ideias da geometria e da física, em gravuras como as famosas Relativity (Relatividade), Waterfall (Queda d’água) e Hand with reflecting sphere (Mão com esfera refletora), mas também remetia à biologia e à teoria da evolução, como em sua série Metamorphosis (Metamorfose).

Estive outro dia no Centro Cultural Banco do Brasil, no centro de São Paulo, para apreciar sua arte-ciência (ou seria ciência-arte?), na mostra “O mundo mágico de Escher”, e o que vi confirmou minhas expectativas. Pena que, para variar, fiz minha visita ao final do período de exposição, restando aos demais interessados apenas três dias – até domingo, 17 de julho – para contemplar a magnífica obra desse holandês que teve por missão não apenas encantar, mas acima de tudo intrigar nossos olhos.

O endereço do CCBB-SP é Rua Álvares Penteado, 112, e a exposição, que é gratuita, ocorre das 9 às 20 horas.

terça-feira, 5 de julho de 2011

Quais os limites da crueldade humana?

Até onde chega a crueldade humana? Difícil responder, mas talvez venham às mentes de muitas pessoas imagens dolorosas como as dos campos de concentração do nazismo ou das bombas atômicas no Japão, ou então lembranças das torturas do regime militar, ou de crimes como o recente massacre na escola de Realengo, entre outras tantas cenas e relatos tenebrosos de que a história humana nada tem a se orgulhar.

Do ser humano contra o próprio ser humano, de fato não é fácil dizer qual a maior crueldade cometida. Mas do homem contra a natureza, surge um forte candidato: revelou a Folha de S.Paulo, na última sexta-feira, dia 1º, que desmatadores usaram aviões para jogar herbicidas sobre uma área equivalente a 180 campos de futebol, na floresta amazônica, mais precisamente no município amazonense de Canutama, próximo da divisa com Rondônia.

Segundo especialistas consultados pelo jornal, os agrotóxicos matam as árvores de imediato. O solo e o lençol freático são contaminados e, por conseguinte, os animais, inclusive insetos, também têm suas vidas ceifadas, quando não diretamente pelos venenos que lhes são jogados de cima, sem qualquer piedade. Para completar a desgraça, a saúde humana igualmente pode sofrer as consequências de tamanha maldade até porque exposta aos riscos decorrentes do uso do terreno para pasto e plantações.

Resta esperar que esses criminosos sejam encontrados e punidos, e que isso não se torne um costume, como já são as queimadas, as motosserras e as correntes presas a tratores que derrubam fileiras de árvores em uma só tacada. Se parece não haver limites para a crueldade humana, que ao menos nunca deixe de ser exceção.

Mais detalhes na matéria “Ibama flagra desmate feito com aviões” (como o site da Folha é restrito a assinantes, faço o vínculo a uma página do Instituto Socioambiental, que reproduziu o texto). Abaixo, foto do Ibama e infográfico publicados na capa da edição de sexta da Folha.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

O museu e o mordomo

alguns anos, ao que tudo indica em 2004, eu e o amigo e biólogo Ricardo Gandara Crede estivemos no Museu da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. Foi sem dúvida uma visita muito interessante, tanto pelo ambiente em si, de arquitetura singular, como pelas dezenas de instrumentos antigos da medicina, entre outras peças, de alto requinte artístico e inegável valor histórico.

Mas, curiosamente, o que mais me ficou guardado na memória, nos anos seguintes, foi a figura ao mesmo tempo imponente, simpática e solícita do Dr. Velloso, mordomo do museutermo que julguei estranho à época, mas que era bastante apropriada à sua pessoa e à sua função, visto que nos guiou candidamente pelas diferentes alas e salas do local, dando detalhes sobre não poucos dos objetos do acervo.

Nossa intenção era escrever um livro sobre os 120 anos da Santa Casa, que seriam completados naquele ano, o que acabou não acontecendo. De qualquer modo, valeu a pena por ter conhecido o museu e também o próprio hospital, que, embora com problemas comuns a tantos outros no país, é muito diferente da grande maioria dos demais, a começar por seus traços arquitetônicos peculiares.

Nunca mais fui ao Museu da Santa Casa e nem vi o Dr. Velloso. Soube, porém, de seu falecimento, na quarta-feira passada, dia 29, aos 87 anos, por meio de nota na edição de ontem do jornal O Estado de S. Paulo. Fiquei sabendo também que era colecionador de obras de arte – o que não surpreende – e rótulos de vinho, historiador e escritor, autor de livros como Os artistas Dutra: oito gerações.

Não tenho dúvidas de que o Dr. Velloso cujo nome completo era Augusto Carlos Ferreira Velloso, e também era engenheiro – vai fazer muita falta ao Museu da Santa Casa e àqueles que conviveram mais diretamente com ele.

Para saber mais sobre o Museu da Santa Casa, basta acessar o endereço http://www.santacasasp.org.br/museu/.