domingo, 29 de maio de 2011

Coração (partido) de leão

Se você vivesse num apartamento daqueles bem pequenosenfim, como se diz, um “apertamento” –, mas com a mulher ou homem de sua vida, preferiria que ela ou ele fosse embora para ter mais espaço? Para, em outras palavras, ter mais qualidade de vida ou condições de moradia?

Aposto que nãoainda que haja louco pra tudo e alguém possa vir a respondersim”. Mais do que me negar a esse ato insano, eu diria que qualidade de vida é sobretudo estar ao lado de quem se ama, ainda que num ambiente com pouco conforto e até com problemas do tipo goteiras no teto e fiação exposta.

O que dizer então do leão do zoológico de Niterói, que está há meses sofrendo pela ausência de sua companheira, afastada do amadojunto com outros mais de duzentos animaispor conta de uma decisão judicial, motivada pelas condições supostamente precárias do zoo?

Ainda que se prove que o local sofre de sérios problemas, a depressão em que se encontra o felino tem a mostrar quão equivocada foi tal decisão. Que os problemas sejam resolvidos, mas sem partir o coração de ninguém, mesmo que seja de um leão.

Mais detalhes sobre esse caso de amor no textoLeão está triste e sem fome após ser separado de companheira de jaula”, do portal Último Segundo.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

O paraíso não é ali, infelizmente

Ao entrar na Cidade Universitária, meu pai costuma dizer que está num paraíso, em contraste com a São Paulo caótica, com trânsito quase insuportável, que está do outro lado dos muros do principal campus da USP. Em grande parte, concordo com meu pai. Mas não é bem assim. E nem os muros a fazem ser um lugar totalmente à parte dos males da megametrópole.

O assassinato de um jovem estudante da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), anteontem, é a prova inconteste de que a Cidade Universitária paulistana, embora tenha sua dinâmica própria, não pode deixar de ter sua segurança reforçada tanto quanto qualquer outra região da cidade.

Soube há poucas horas que a Polícia Militar terá presença mais intensa no campus. Há quem seja contra, lembrando, com suas razões, episódios infelizes em que a PM agiu muito mais para reprimir do que para garantir a segurança. Mas, ao menos até que a guarda universitária tenha condições de tornar o local mais segurocondições que hoje está muito longe de ter –, o que fazer senão contar com a PM? Gastar dinheiro com segurança particular? Além dos custos correspondentes, dificilmente seria mais eficaz que a PM e ainda ensejaria outros tipos de polêmicas, como as concernentes a editais, licitações e quiproquós desse gênero.

É verdade que ter mais policiamento não é a única solução. Com mais de uma década de USP, estudando e trabalhando, sei muito bem quão mal iluminada é a Cidade Universitária. No entanto, somente mais luz e mais polícia não serão medidas suficientes para resolver o problema. É preciso sobretudo haver o envolvimento permanente da comunidade – e por que não, gradativamente, adotar modelos de policiamento comunitário como os existentes, com bons resultados, no bairro Jardim Ângela, na zona sul da capital paulista, e nos morros do Rio de Janeiro que contam com suas unidades pacificadoras?

Se a Universidade de São Paulo sempre serviu de modelo para encontrar soluções para nossas vidas, da biologia à engenharia, não pode também ser laboratório para buscar saídas, intra e extramuros, para esse mal tão pertinaz que é a violência?

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Um pouco de música no TransCiências

A amiga Nicete Campos nos dá a preciosa dica de divulgar o trabalho do pianista gaúcho Artur Cimirro, que está na Austrália para uma série de concertos, trazendo na bagagem nada menos que Liszt, Bach, Stravinsky e Villa-Lobos, entre outros compositores de primeira grandeza.

Não é a primeira vez que Nicete me fala de Cimirro, responsável pela boa revista eletrônica Opus dissonus, disponível no endereço http://www.opusdissonus.com.br/. Músico e editor, o que não sabia é de suas qualidades como pesquisador, ao fazer o resgate de manuscritos, como mostra uma reportagem do portal Mais Interior, cujo link indico mais abaixo, bem como o de um blog que fala da turnê de Cimirro pela terra dos cangurus.

Diz o pianista: “Alguns destes manuscritos estavam praticamente ilegíveis devido à má conservação, e apesar das dificuldades estão salvas cerca de 50 obras, sendo que muitas delas são de compositores do período romântico, ou seja, antes de 1890.”

Parabéns a Artur Cimirro, não apenas por seu trabalho e seu sucesso, mas também por aliar arte e ciência, por meio de suas pesquisas.

Textos citados nesta postagem:
Música erudita – A galinha do vizinho bota ovo amarelinho
Bondi Jam, Artur Cimirro in Concert e Tributo a Manu Chao

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Terça-feira gorda (de ciência)

Uma terça-feira rara este último 10 de maio. Os dois maiores jornais da capital paulista estampavam em suas capas, como manchetes principais, temas de cunho científico. “Depressão e álcool tiram mais anos de vida dos brasileiros”, mostrava a Folha de S.Paulo. “Governo quer abater dívida rural de quem reflorestar”, afirmava seu grande concorrente, O Estado de S. Paulo, referindo-se ao Código Florestal.

É fato que ambos os temas vão muito além da ciência, o que reforça a tese de que, especialmente hoje em dia, a divulgação científica não pode prescindir de seu caráter transdisciplinar. E assim precisa ser, caso contrário muito dificilmente fará frente a setores em geral de maior interesse dos brasileiros, como esportes, política e economia. Faz-se necessário aproximar a ciência do cotidiano de nossa população.

Temas de ciência pura – se é que isso existe – até podem chamar a atenção de muita gente, mas efetivamente interessam a poucos. Quantos de nós queremos saber os detalhes de uma estrela ou de um planeta distante recém-descoberto, ou então de uma partícula subatômica? Não devemos desprezar assuntos como estes, um tanto mais áridos para o público dito leigo, mas mesmo eles arrebanharão mais mentes quando forem apresentados de maneira mais palatável para a maioria.

Sobre os temas que ganharam as capas dos dois jornais citados na última terça, por ora lanço apenas algumas indagações. Diz a Folha que “mudanças no estilo de vida e o envelhecimento da população causam mais transtornos psiquiátricos”; isso explica tudo? Como, então, tornar nossa vida mais saudável ou, então, menos “transtornável”? Não é hora de tentarmos corrigir esse e outros problemas na fonte, em suas causas, e não apenas tentar contornar ou controlar os seus efeitos?

Quanto ao Código Florestal, muito comentado nos diferentes meios de comunicação, e que talvez venha a ser votado nos próximos dias, o que mais tenho visto são números: tantos metros pra , outros tantos hectares pra , e agora bilhões de reais acolá. Não seria melhor priorizar as qualidades, em vez das quantidades? Pelo jeito, é tarde demais.