Dra. Maria Julieta, como nos acostumamos a chamá-la no Núcleo José Reis de Divulgação Científica da USP, do qual sempre foi dileta colaboradora, entende como poucos sobre como tornar a ciência compreensível aos olhos da infância. Foi diretora do Ibecc (Instituto Brasileiro de Educação, Ciência e Cultura), ligado à Unesco, participou da criação – a partir de ideia de seu amigo José Reis – do Concurso Cientistas de Amanhã, atuou na promoção de feiras de ciências, conduziu atividades científicas com crianças para a Folhinha, suplemento infantil da Folha de S.Paulo, trabalhou incansavelmente, enfim, em cultivar a ciência nos terrenos mais férteis que podemos encontrar: a mente e a alma dos pequenos.
Não à toa Glória Kreinz, coordenadora de pesquisa do NJR, intitulou-a primeira-dama da divulgação científica, tal a importância que o público infantil tem para a propagação do conhecimento científico e tamanha a relevância de Maria Julieta Ormastroni na história da divulgação da ciência para crianças.
Encerro este texto com palavras dessa grande mestre, com quem já há alguns anos não tenho o prazer de rever e conversar. São reproduzidas do artigo “Trabalho extra-escolar e tempo livre”, publicado no livro Divulgação científica: reflexões, de 2003, sexto volume da Coleção Divulgação Científica, do Núcleo José Reis. Constituem também precioso recado para os educadores. Ei-las:
“Não há nada mais estimulante do que aprender aquilo em que se está interessado. Para os professores é gratificante verificar como as crianças se dedicam e aprendem com prazer. Muitos diretores de escolas e mesmo professores têm a idéia de que programas extra-escolares na área de ciência não podem ser desenvolvidos com crianças de ensino fundamental. Uma outra crença comum é que para a realização de um programa como este é necessário muito espaço e equipamentos sofisticados, bibliotecas especializadas e uma boa base em ciências. Programas deste tipo para pré-escola, então, nem pensar. [...]
“Lembro que autoridades brasileiras e estrangeiras da área de educação têm recomendado que o ensino de ciências seja iniciado o mais cedo possível. É lógico que não espero que todos os professores partilhem desta opinião e nem que todos os estudantes escolham carreiras científicas. Minha esperança, que acredito seja partilhada pela grande maioria dos educadores e pais, é que os estudantes sejam treinados a usar uma abordagem racional na solução de problemas que vão enfrentar pela vida afora, qualquer que seja a profissão que venham exercer. Quero ainda demonstrar que programas extra-escolares de ciências são factíveis tanto para alunos do ensino fundamental como da pré-escola, mesmo com um mínimo de estrutura e de recursos. Não que seja fácil executá-los, desenvolver um programa destes com sucesso é, sobretudo, um desafio para os educadores, pois não é um problema de recursos materiais, mas de idéias. Idéias que consigam aglutinar e entusiasmar as crianças.”
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