Tudo isso tem ao menos um dedinho de Steve Jobs – ou, no caso dos produtos da Apple, uma mão inteira, ou as duas, ou quem sabe até os dois braços. Não tenho muito o que acrescentar ao que já foi dito desde anteontem à noite – gênio, visionário etc. –, quando foi anunciada a morte de Jobs, até porque entendo muito pouco de informática e tecnologia. Mas que algo mudou depois dele, parece-me inquestionável.
O tempo dirá se de fato ele foi um gênio ou sobretudo alguém que, com muito empenho e visão apurada dos negócios e da realidade de um mundo de consumo, se sobressaiu com seus inventos e sua engenhosidade. E dirá também se foi, em verdade, um grande benfeitor da humanidade, ao fazê-la se comunicar e se divertir de uma maneira diferente e intensa, como o fazemos hoje, ou se foi artífice de uma sociedade global dependente de tecnologia e de novidades postas à venda em ritmo desenfreado.
A sensação que tenho hoje, porém, é de que perdemos alguém tão notável quanto um Thomas Edison, um Benjamin Franklin ou um Santos Dumont, só para citar três dos mais brilhantes inventores da história humana (e tivemos o privilégio de ser contemporâneo dele). E também de que perdemos alguém que não se limitava a ser um notório criador e vendedor, mas igualmente procurava cultivar alguma profundidade de pensamento – como pudemos ler e ouvir, seguidamente, nestes últimos dias, ao se mostrar ou citar seu discurso de 2005 na Universidade de Stanford –, o que talvez seja a principal chave para escapar de qualquer dependência, inclusive a da tecnologia.
Da maçã de Newton à Apple de Jobs, a ciência evoluiu, e o mundo se transformou. Causa-nos vertigem pensar no quanto se fez e se criou nos séculos compreendidos entre esses dois autênticos homens de ciência, cada um a seu modo. Mas o que será daqui para frente? Qual o caminho a seguir? Mais tecnologia? Mais consciência? Estou certo de que Jobs diria algo do tipo: os dois caminhos não apenas são válidos, como devem ser trilhados juntos. Mas, acrescento, será difícil fazê-lo se não surgirem outros visionários como ele.
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