O último fim de semana foi curioso jornalisticamente, em específico na Folha de S.Paulo. Em primeiro lugar, tanto no sábado como no domingo, as manchetes de capa tinham a ver com ciência, ainda que não de modo direto e fulcral.
No dia 15, ostentava-se o horror: “Lixo hospitalar dos EUA é vendido em loja no país”, expondo o inominável e abominável episódio em que lençóis usados, provenientes de hospitais norte-americanos, foram encontrados à venda no interior de Pernambuco – episódio este que já alcançou o noticiário televisivo, com grande destaque durante a semana. A Folha, enfim, célebre por suas denúncias no campo da política, desta vez prestou um singular serviço ao país ao revelar um caso grave na área de saúde pública.
O domingo, 16 de outubro, por sua vez, mostrou uma Folha estranha aos meus olhos, com manchete muito pouco crítica, pelo contrário, um tanto laudatória em relação aos investimentos públicos e particulares numa das principais regiões do Brasil: “Amazônia vira motor de desenvolvimento”. No lide (parágrafo inicial), um texto que caberia melhor em peças publicitárias do que no jornalismo: “O governo e o setor privado inauguraram novo ciclo de desenvolvimento e ocupação da Amazônia Legal”. Apenas no final do texto de capa faz-se uma ressalva relativa à controvérsia entre ambientalistas, associada à informação de que diminuíram os gastos com conservação.
Os textos no interior do jornal mostram um pouco mais de equilíbrio entre as questões do investimento e da preservação ambiental, ainda que o destaque seja para a primeira vertente.
De qualquer modo, a presença, na Folha, de manchetes de capa desse teor constituíram, ainda que sem qualquer intenção, um bom prenúncio para a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia, iniciada na segunda-feira seguinte e a se encerrar no próximo domingo, dia 23. Pena que ficou só no prenúncio, pois até o momento a Semana tem sido praticamente ignorada pela grande imprensa.
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