O mesmo acontece com exposições, embora eu dificilmente perca aquelas que realmente quero ver. E foi o caso da “Água na Oca”, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo (mais exatamente no prédio que tem a forma e nome de habitação indígena, o qual compõe o conjunto arquitetado por Oscar Niemeyer), que visitei poucos dias antes de se encerrar – o que ocorreu ontem mesmo.
Muitos não veriam sentido em se comentar um evento passado. Alguns até me xingariam por isso – e com razão. Mas, antes que isso aconteça, lhes digo: não perderam nada, ou no máximo muito pouco. Se tivesse achado boa, provavelmente calaria minha boca e me arrependeria de não a ter divulgado.
Ainda assim, qual o sentido de se criticar algo que já foi? Vejo duas razões. A primeira: contribuir para que se evitem os mesmos erros em exposições futuras. O segundo motivo: fazer um breve diagnóstico – e parcial, fique bem claro, pois não sou especialista em museologia e, por isso mesmo, muito do que direi é imbuído de minha visão particular – sobre as recentes exposições com temas de teor científico que passaram pela capital paulista, onde resido, parte delas também em outras cidades do país.
O primeiro e talvez mais notório problema, no meu entendimento: o excesso de textos, em murais ou totens que introduzem ou acompanham setores da exposição – o que tem sido uma constante em eventos semelhantes. Adoro ler, mas não em pé. Livros, jornais, revistas; mas não textos, digamos, emparedados. São ricos em informação, é verdade; mas, justamente por isso, maçantes. E para piorar, no caso da “Água na Oca”, estavam muito mal iluminados, exigindo esforço inglório para a leitura.
Esse tipo de recurso também tem aparecido em exposições eminentemente de arte; nestes casos, porém, em geral a qualidade dos objetos se sobrepõe de tal maneira que os textos se tornam pouco relevantes. Já nas mostras cujo teor é mormente científico, o que é exposto, a meu ver, fica muito a desejar. Abusa-se dos recursos multimídia, às vezes para diversão ingênua e dispersiva, outras para contribuir com o excesso de informação, quando não para causar confusão. Naquelas em que o mote é um cientista em particular, como já houve com Einstein e Darwin, fotos, fotos e mais fotos... que seriam mais bem aproveitadas, creio, num site da internet ou num DVD. Este igualmente seria o melhor destino para muitos dos vídeos apresentados, que não raro se mostram deslocados ou pouco compreensíveis.
Voltando a falar especificamente da “Água na Oca”, chamou-me também a atenção – e também negativamente – o número considerável de atrações com estampas de patrocinadores, a maioria de qualidade e propósito bastante questionáveis. Ficou-me a impressão de que boa parte da exposição servia a fazer propaganda dessas empresas, obcecadas por ostentarem em seus produtos o carimbo da tão afamada sustentabilidade, ou simplesmente a imagem de amigas da natureza. Serão mesmo?
Aquilo de que mais gostei – ou menos desgostei, para ser mais preciso – na Oca foram as criações artísticas. Ainda assim, nada surpreendente; nada, enfim, que difira muito do que vemos nos acervos permanentes de nossos (bons, diga-se de passagem, ainda que com algumas limitações) centros de ciência, como a Estação Ciência e os espaços Sabina e Catavento, entre outros (poucos, aliás).
Para coroar a visita, colhi os frutos da péssima escolha de ter ido num meio de semana, no horário da tarde. Claro, havia as excursões de colégios. Nada contra a presença das crianças e adolescentes; muito pelo contrário, é muito bom que eles aproveitem esse tipo de oportunidade. Não, porém, da forma tão caótica de que fui testemunha, não apenas com a meninada gritando e bagunçando, mas igualmente com os professores e monitores se esgoelando para prender a atenção dos alunos e se fazer entender por eles. Com a acústica do prédio a reverberar tal sinfonia, senti-me num parque de diversões, e não num local em que a diversão teria de estar em equilíbrio com o aprendizado.
Ainda estamos, penso, na infância das exposições científicas. Mas, como toda infância, deve ser cuidada, para que os erros, de tão presentes, não resultem em vícios que, de tão arraigados, dificilmente deixarão de existir. Embora tais iniciativas sejam em grande parte louváveis e contribuam, até certo ponto, com o desenvolvimento de uma autêntica cultura científica no país – o que está muito longe de se consolidar –, ainda há muito a se corrigir e aperfeiçoar. Textos, recursos multimídia e ambientes lúdicos são muito bem-vindos, mas não a ponto de desviarem demasiadamente a atenção do que realmente interessa: aprender, com prazer, mas sobretudo com qualidade e efetividade.
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