sábado, 30 de abril de 2011
As sementes deram frutos
Antes que o mês termine, quero registrar o carinho e o respeito com que fui recebido em Ribeirão Preto, no último dia 16, quando ministrei a palestra intitulada “Divulgação científica: mitos, conceitos e práticas” para os alunos do curso de especialização “Parceiros na divulgação de ciências: um programa da Casa da Ciência do Hemocentro de Ribeirão Preto”.
Além da conversa agradável – palestra de fato não foi, ainda bem! – com os participantes do curso, indo muito além do recorte temático previsto, fiquei contente em conhecer um pouco (infelizmente não houve tempo para incursões mais longas) do excelente trabalho de divulgação da ciência empreendido pelo Hemocentro, ligado à Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Recebi de Vinicius Godoi, integrante do Centro de Educação da instituição, valioso material que continha, entre outras coisas, exemplares da publicação Jornal das Ciências, distribuída gratuitamente em escolas da região, e um DVD com o vídeo “Celularium: a viagem pela célula”, produzido por ocasião da Semana Nacional de Ciência e Tecnologia de 2010, em outubro.
A satisfação é ainda maior por ver que as sementes que ajudei a plantar, desde o final dos anos 90, quando ainda muito pouco se falava de divulgação científica no Brasil, estão dando frutos em diferentes locais do país.
terça-feira, 19 de abril de 2011
Divulgação científica e formação interdisciplinar
Aos que se dedicam com mais afinco a acompanhar as discussões sobre divulgação científica, retransmito uma dica preciosa que me foi dada pelo jornalista Itamar Rigueira Junior. Trata-se de entrevista com Silvania Sousa do Nascimento, diretora de divulgação científica da UFMG, feita por Ana Rita Araújo.
Tanto quanto falar sobre as iniciativas da UFMG na divulgação da ciência, Silvania faz importantes considerações sobre o caráter interdisciplinar desse tipo de atividade, podendo contar “tanto com pessoas que tenham uma formação inicial na ciência – como campo mais amplo, não só a ciência experimental – mas também na área de cultura, na literatura.”
A íntegra da entrevista está no seguinte endereço:
http://www.ufmg.br/online/arquivos/018740.shtml.
Quem quer virar chaveiro?
Fiquei mais estarrecido quando entrei na página da internet indicada pelo jornal (acesso aqui). Salamandras, tartarugas e até mesmo peixes dourados fazem parte do “cardápio” oferecido pelos comerciantes chineses.
Já que eles – bem como quem teve a brilhante ideia de criar tamanha monstruosidade – não poderão me entender, lanço a pergunta antes que algum engraçadinho queira fazer o mesmo no Brasil: quem de nós gostaria de estar no lugar de algum desses pobres bichinhos? Alguém ousa dizer que sim?
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Perplexidade e indagações
Preparava-me para escrever sobre outros assuntos, quando soube do massacre que resultou na morte de mais de dez estudantes numa escola do Rio de Janeiro, na manhã da última quinta-feira, 07 de abril.
Ainda imersos na perplexidade causada pelo impacto da notícia, e pelos detalhes que vieram pouco a pouco à tona, temos procurado avidamente por explicações para o ato insano perpetrado por um jovem de 23 anos que se tornou o grande vilão destes recentes dias.
Bullying, fanatismo religioso, obsessão por armas, transtornos mentais diversos, a morte precoce dos pais biológicos, a morte da mãe adotiva há pouco mais de um ano – um quebra-cabeça, enfim, que nos dificulta afirmar “o grande motivo é este!”. Tarefa que já seria hercúlea caso o assassino estivesse vivo – que dirá estando morto.
Tamanha a sua complexidade, o triste episódio tem sido tratado como caso isolado. O que, a meu ver, é um grande erro. Pode até ser verdade que a maioria dos casos de homicídio, no Brasil e no mundo, tenha motivos bem definidos: vinganças, drogas, consequências de assaltos, desentendimentos etc. Mas não posso deixar de enxergar muita coisa em comum entre o massacre de Realengo e os outros inúmeros casos de violência que vemos dia após dia nos jornais ou na TV.
A conclusão a que chego, ainda que temporária e parcial, é de que a violência não apenas está nas raízes de nossa sociedade – ou de nossa humanidade, se preferirem –, como também é alimentada por ela.
Não me refiro aqui, como muitos poderiam pensar, à enorme oferta de violência por meio de filmes, games e também da própria mídia. Mas sim àquela violência travestida de normalidade, que a maioria julga como mera contingência das mazelas humanas ou do funcionamento dos grandes sistemas.
O que dizer, por exemplo, dos vultosos salários recebidos por políticos, esportistas e artistas de TV, frente a um salário mínimo que não chega a seiscentos reais? Ou dos incontáveis casos de corrupção de que sabemos periodicamente? Ou da situação extremamente precária de nossos hospitais públicos?
Não consiste tudo isso em outras tantas formas de violência, de que sofremos praticamente todos os dias? Como então exigir soluções para os atos que costumamos classificar como violentos, do assalto à padaria da esquina até a tragédia de Realengo, sem querer solucionar esses outros “desvios” ou “distorções”? Como buscar a paz numa sociedade que cultiva a violência, em diferentes instâncias?
Eu até teria minhas respostas por ora, mas, além de prematuras provavelmente, penso ser mais oportuno deixar as perguntas no ar.
sexta-feira, 1 de abril de 2011
Qual a ciência que vale?
O que não dá pra acreditar é que nada menos que 11 artigos científicos publicados por um químico da Unicamp sejam frutos de fraude, como revelou ontem a Folha de S.Paulo. Ainda é cedo, convenhamos, para se fazer qualquer avaliação que se queira conclusiva. Mas, se constatada a veracidade da acusação, será mais uma evidência de que a ciência – não apenas a brasileira, mas a mundial – caminha para se tornar escrava da obrigação de se publicar. O que deveria ser consequência do fazer científico vem se transfigurando em seu motor.
À espera de que a suposta fraude não passe de um engano, resta-nos manter a esperança de que o exemplo de Evandro Guimarães seja seguido, não apenas por sua opção por uma ciência baseada na simplicidade e na praticidade, mas igualmente por conta de suas lúcidas palavras: “A universidade pública tem o papel primordial de resolver os problemas da sociedade”.
A reportagem da Globo e a matéria da Folha podem ser acessadas por meio dos vínculos abaixo:
Pesquisadores desenvolvem equipamento que facilita a leitura
Químico da Unicamp é acusado de fraudar 11 estudos científicos