Preparava-me para escrever sobre outros assuntos, quando soube do massacre que resultou na morte de mais de dez estudantes numa escola do Rio de Janeiro, na manhã da última quinta-feira, 07 de abril.
Ainda imersos na perplexidade causada pelo impacto da notícia, e pelos detalhes que vieram pouco a pouco à tona, temos procurado avidamente por explicações para o ato insano perpetrado por um jovem de 23 anos que se tornou o grande vilão destes recentes dias.
Bullying, fanatismo religioso, obsessão por armas, transtornos mentais diversos, a morte precoce dos pais biológicos, a morte da mãe adotiva há pouco mais de um ano – um quebra-cabeça, enfim, que nos dificulta afirmar “o grande motivo é este!”. Tarefa que já seria hercúlea caso o assassino estivesse vivo – que dirá estando morto.
Tamanha a sua complexidade, o triste episódio tem sido tratado como caso isolado. O que, a meu ver, é um grande erro. Pode até ser verdade que a maioria dos casos de homicídio, no Brasil e no mundo, tenha motivos bem definidos: vinganças, drogas, consequências de assaltos, desentendimentos etc. Mas não posso deixar de enxergar muita coisa em comum entre o massacre de Realengo e os outros inúmeros casos de violência que vemos dia após dia nos jornais ou na TV.
A conclusão a que chego, ainda que temporária e parcial, é de que a violência não apenas está nas raízes de nossa sociedade – ou de nossa humanidade, se preferirem –, como também é alimentada por ela.
Não me refiro aqui, como muitos poderiam pensar, à enorme oferta de violência por meio de filmes, games e também da própria mídia. Mas sim àquela violência travestida de normalidade, que a maioria julga como mera contingência das mazelas humanas ou do funcionamento dos grandes sistemas.
O que dizer, por exemplo, dos vultosos salários recebidos por políticos, esportistas e artistas de TV, frente a um salário mínimo que não chega a seiscentos reais? Ou dos incontáveis casos de corrupção de que sabemos periodicamente? Ou da situação extremamente precária de nossos hospitais públicos?
Não consiste tudo isso em outras tantas formas de violência, de que sofremos praticamente todos os dias? Como então exigir soluções para os atos que costumamos classificar como violentos, do assalto à padaria da esquina até a tragédia de Realengo, sem querer solucionar esses outros “desvios” ou “distorções”? Como buscar a paz numa sociedade que cultiva a violência, em diferentes instâncias?
Eu até teria minhas respostas por ora, mas, além de prematuras provavelmente, penso ser mais oportuno deixar as perguntas no ar.
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