quinta-feira, 31 de março de 2011
terça-feira, 29 de março de 2011
O homem e seu exemplo
Há raras pessoas – tanto entre as que conhecemos pessoalmente, como entre as que acompanhamos pela mídia – que, pela força de seu exemplo, acabam conquistando nosso mais profundo respeito e admiração. Se não viram unanimidade, chegam muito próximo disso.
Não posso deixar de abrir um espaço, portanto, ainda que sem relação direta com os temas principais deste blog, para fazer uma singela homenagem a José Alencar, nosso ex-vice-presidente, que nos deixou na tarde de hoje. É verdade que ele teve condições de tratamento que a grande maioria dos brasileiros não tem. Mas também é verdade que muitos de nós não suportaríamos o que ele suportou – e da forma como o fez, demonstrando muita esperança e bom humor.
Onde quer que esteja, receba José Alencar os nossos mais sinceros agradecimentos. Seu exemplo, muito acima de quaisquer injunções políticas, ficará gravado não apenas na história de nosso país, como também em nossas mentes e corações. Muitíssimo obrigado.
sexta-feira, 25 de março de 2011
Água para os ingênuos
No entanto, talvez mais do que as matérias jornalísticas, o que chamou a atenção foram as peças publicitárias. Os assinantes dos dois grandes jornais paulistanos (Folha e Estado), por exemplo – não sei se isso se repetiu em outros diários do país –, ficaram surpresos ao receber seus exemplares com o caderno de economia por sobre o principal. O motivo? O anúncio de um inédito “banco de água”, tido como tão importante a ponto de figurar como capa do jornal, sem deixar de constar do caderno cujo tema lhe é correspondente: a economia. Os usuários do banco, enfim, poderão “depositar” os litros de água que economizarem e em troca ganharão pontos que lhes darão direito a descontos em sites de compras.
A iniciativa até pode ser boa – o tempo dirá. Mas, tal qual outros anúncios que associam os produtos ofertados a temas nobres, de cidadania a ecologia, gerou-me desconfiança. Como aqueles renitentes informes publicitários de grandes conjuntos residenciais que dizem zelar pelo meio ambiente, quando na verdade descaracterizam quarteirões ou bairros inteiros, agravam o adensamento populacional e, por conseguinte, contribuem para a piora do trânsito de suas regiões, com inegáveis prejuízos à qualidade do ar e de vida das pessoas.
terça-feira, 22 de março de 2011
Mordida científica (não importa o que isso queira dizer)
A estreia ontem (21/3) de Morde e Assopra, nova novela das 7 da Globo, chamou a atenção – mais do que por suas qualidades artísticas, quase sempre discutíveis quando se trata de televisão – por apresentar duas temáticas de cunho científico não apenas, a meu ver, como mero pano de fundo, mas como elementos essenciais a parte das tramas que se desenrolam no folhetim, de autoria de Walcyr Carrasco.
Por um lado, uma paleontóloga e sua equipe, após terem seus trabalhos de escavação arrasados por um terremoto no Japão (mera coincidência, pois as cenas foram gravadas meses antes da tragédia real do início deste mês), vêm ao interior de São Paulo tentar desenterrar o fóssil de um titanossauro – o que, ao que parece, será a grande “novela” dentro da novela, visto que o proprietário das terras onde se encontram os ossos fará de tudo para impedir as escavações e, de quebra, se apaixonará pela mocinha (a própria paleontóloga), apesar das brigas em torno do “dino”.
Em outra vertente, um especialista em robótica, cuja namorada está desaparecida já há algum tempo, não poupará esforços para criar uma robô (no feminino mesmo, até porque se trata da atriz Flávia Alessandra) à imagem e semelhança de sua amada. Algo que inevitavelmente nos faz lembrar de incontáveis obras que de alguma forma tratam da relação entre homens e máquinas, quando não da “humanização das máquinas”, de Blade Runner a Star Trek e sua personagem Data, da nova geração, sem falar dos pioneiros da literatura de ficção científica.
Não é de se esperar, é claro, precisão científica em uma produção ficcional, ainda mais destinada ao grande público e mutável conforme a reação dos espectadores – caso das telenovelas. Muito haverá de fantasia, e imprecisões poderão ser comuns. Mas torçamos para que a ciência seja tratada de maneira digna e que uma importante função da divulgação científica (ainda que não se trate de uma produção de DC propriamente dita, embora esteja imersa em seu campo de atuação) seja cumprida: a de estimular, em especial entre os jovens, o gosto pela ciência.
sexta-feira, 18 de março de 2011
Humor pré-histórico
Toques de bom humor são muito bem-vindos em textos de divulgação científica, e têm sido muito frequentes de alguns anos para cá. Sem dúvida uma das principais responsáveis pela consolidação dessa tendência no Brasil é a Folha de S.Paulo, que vem mantendo há um bom tempo uma editoria de ciência de alta qualidade.
Mas soou no mínimo estranho a chamada, na capa da edição de ontem (17/3) do jornal paulistano, referente ao mais “novo” dinossauro brasileiro, o Oxalaia quilombensis: “Brasil ganha um megadinossauro carnívoro para chamar de seu”. Enfim, até mesmo bom humor tem limites.
De qualquer modo, o texto de Reinaldo José Lopes, editor de ciência da Folha – embora repita o gracejo –, é bom, como muitos desse jornalista, e é enriquecido por um interessante infográfico e especialmente por outro texto do mesmo autor, intitulado “Cuidado com a divulgação é ‘rito de passagem’ para a paleontologia no país”, que deixa bem claro quão importante deve ser, para os cientistas, preocupar-se e preparar-se para a transmissão de informações para a sociedade.
Ademais, reforça a imagem de competência da equipe do paleontólogo Allexander Kellner, do Museu Nacional da UFRJ, que não raras vezes tem aparecido na mídia com anúncios de descobertas e estudos concernentes aos “dinos tupiniquins” – o que vem ocorrendo pelo menos desde o lançamento, em 1999, do livro O Brasil no tempo dos dinossauros, de autoria de Kellner, Cibele Schwanke e Diogenes de Almeida Campos, sobre o qual tive o prazer de escrever, nos meus tempos de editor no Núcleo José Reis de Divulgação Científica da USP.
Como o conteúdo completo do site da Folha está disponível apenas para assinantes do jornal ou do Uol, remeto à reprodução dos textos pelo Jornal da Ciência, da SBPC: http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=76774.
Já os textos de minha autoria que mencionei acima, publicados em maio de 2000, estão na página “Textos pré-blog”, com acesso aqui.
quinta-feira, 17 de março de 2011
Fusão informacional (ou Fundindo a nossa cuca)
Tanto para explicar o terremoto e o consequente tsunami, como para esmiuçar o que tem ocorrido – bem como o que pode ocorrer – na usina nuclear de Fukushima, os diferentes veículos de comunicação não têm poupado esforços em descrever, por exemplo, como podem se deslocar as placas tectônicas ou funciona um reator nuclear. Ainda que se tente evitá-los, naturalmente termos técnicos vêm à tona, e acabamos nos acostumando, mesmo que de forma temporária, com nomes de elementos químicos pouco conhecidos e denominações de processos que em geral nos parecem, ao menos num primeiro momento, muito complicados.
É aí que emerge um outro perigo – claro, infinitamente menor que aqueles relacionados de maneira direta aos fatos, mas que não deixa de ser importante. Visto que qualquer tentativa de comunicação é marcada por um constante oscilar entre elucidações e lacunas – enfim, nem tudo o que se procura transmitir é absorvido ou interpretado tal qual se pretendia –, o que é especialmente impactante quando se trata de ciência, uma única palavra ou expressão mal colocada pode botar em risco o entendimento sequer das informações principais do conteúdo que vem a público.
Senti um breve mas razoável calafrio quando vi estampada em manchete de um grande jornal a palavra “fusão”, dentro do noticiário referente aos eventos destes últimos dias no Japão. Nada a ver com fusão nuclear, processo pelo qual dois núcleos de átomos se juntam para formar um núcleo de número atômico maior, algo que ocorre nas estrelas, mas apenas em escala experimental incipiente no que diz respeito a geração estável de energia elétrica. (O que ocorre nas usinas nucleares é outro processo, o de fissão, em que núcleos são “quebrados”, liberando energia e resultando em átomos de elementos mais leves.) A fusão em questão é aquela que pode ser tomada como sinônimo de derretimento – no caso, dos reatores em Fukushima, o que parece, até prova em contrário, não ter ocorrido – e ficava claro no texto, embora somente para olhares mais atentos, que a palavra em nada remetia à união de átomos.
Houvesse uma fusão nuclear de fato (o que seria praticamente impossível nas usinas atuais, em função da natureza dos elementos utilizados), as consequências poderiam ser gravíssimas, haja vista o fato de esse processo já ter sido empregado em bombas de alto poder destrutivo, como a de hidrogênio, mais conhecida como bomba H, nunca usada para valer. Mas não deu outra! Não tardou para que a seguinte chamada pipocasse em sites de notícias, como os do Uol, Terra e Último Segundo: “Autoridades japonesas não descartam fusão nuclear em usina de Fukushima”.
Que Deus – para aqueles que nele acreditam –, a Mãe Natureza, o Acaso ou o Imponderável nos livrem de tragédias como a que se abateu sobre os japoneses. E que o bom senso e o discernimento de nossos jornalistas e divulgadores de ciência se façam presentes e venham a nos afastar de informações com erros grosseiros como esse.