terça-feira, 31 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Coração (partido) de leão
Aposto que não – ainda que haja louco pra tudo e alguém possa vir a responder “sim”. Mais do que me negar a esse ato insano, eu diria que qualidade de vida é sobretudo estar ao lado de quem se ama, ainda que num ambiente com pouco conforto e até com problemas do tipo goteiras no teto e fiação exposta.
O que dizer então do leão do zoológico de Niterói, que está há meses sofrendo pela ausência de sua companheira, afastada do amado – junto com outros mais de duzentos animais – por conta de uma decisão judicial, motivada pelas condições supostamente precárias do zoo?
Ainda que se prove que o local sofre de sérios problemas, a depressão em que se encontra o felino só tem a mostrar quão equivocada foi tal decisão. Que os problemas sejam resolvidos, mas sem partir o coração de ninguém, mesmo que seja de um leão.
Mais detalhes sobre esse caso de amor no texto “Leão está triste e sem fome após ser separado de companheira de jaula”, do portal Último Segundo.
sexta-feira, 20 de maio de 2011
O paraíso não é ali, infelizmente
Ao entrar na Cidade Universitária, meu pai costuma dizer que está num paraíso, em contraste com a São Paulo caótica, com trânsito quase insuportável, que está do outro lado dos muros do principal campus da USP. Em grande parte, concordo com meu pai. Mas não é bem assim. E nem os muros a fazem ser um lugar totalmente à parte dos males da megametrópole.
O assassinato de um jovem estudante da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA), anteontem, é a prova inconteste de que a Cidade Universitária paulistana, embora tenha sua dinâmica própria, não pode deixar de ter sua segurança reforçada tanto quanto qualquer outra região da cidade.
Soube há poucas horas que a Polícia Militar terá presença mais intensa no campus. Há quem seja contra, lembrando, com suas razões, episódios infelizes em que a PM agiu muito mais para reprimir do que para garantir a segurança. Mas, ao menos até que a guarda universitária tenha condições de tornar o local mais seguro – condições que hoje está muito longe de ter –, o que fazer senão contar com a PM? Gastar dinheiro com segurança particular? Além dos custos correspondentes, dificilmente seria mais eficaz que a PM e ainda ensejaria outros tipos de polêmicas, como as concernentes a editais, licitações e quiproquós desse gênero.
É verdade que ter mais policiamento não é a única solução. Com mais de uma década de USP, lá estudando e trabalhando, sei muito bem quão mal iluminada é a Cidade Universitária. No entanto, somente mais luz e mais polícia não serão medidas suficientes para resolver o problema. É preciso sobretudo haver o envolvimento permanente da comunidade – e por que não, gradativamente, adotar modelos de policiamento comunitário como os já existentes, com bons resultados, no bairro Jardim Ângela, na zona sul da capital paulista, e nos morros do Rio de Janeiro que contam com suas unidades pacificadoras?
Se a Universidade de São Paulo sempre serviu de modelo para encontrar soluções para nossas vidas, da biologia à engenharia, não pode também ser laboratório para buscar saídas, intra e extramuros, para esse mal tão pertinaz que é a violência?
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Um pouco de música no TransCiências
A amiga Nicete Campos nos dá a preciosa dica de divulgar o trabalho do pianista gaúcho Artur Cimirro, que está na Austrália para uma série de concertos, trazendo na bagagem nada menos que Liszt, Bach, Stravinsky e Villa-Lobos, entre outros compositores de primeira grandeza.
Não é a primeira vez que Nicete me fala de Cimirro, responsável pela boa revista eletrônica Opus dissonus, disponível no endereço http://www.opusdissonus.com.br/. Músico e editor, o que não sabia é de suas qualidades como pesquisador, ao fazer o resgate de manuscritos, como mostra uma reportagem do portal Mais Interior, cujo link indico mais abaixo, bem como o de um blog que fala da turnê de Cimirro pela terra dos cangurus.
Diz o pianista: “Alguns destes manuscritos estavam praticamente ilegíveis devido à má conservação, e apesar das dificuldades estão salvas cerca de 50 obras, sendo que muitas delas são de compositores do período romântico, ou seja, antes de 1890.”
Parabéns a Artur Cimirro, não apenas por seu trabalho e seu sucesso, mas também por aliar arte e ciência, por meio de suas pesquisas.
Textos citados nesta postagem:
Música erudita – A galinha do vizinho bota ovo amarelinho
Bondi Jam, Artur Cimirro in Concert e Tributo a Manu Chao
quinta-feira, 12 de maio de 2011
Terça-feira gorda (de ciência)
Uma terça-feira rara este último 10 de maio. Os dois maiores jornais da capital paulista estampavam em suas capas, como manchetes principais, temas de cunho científico. “Depressão e álcool tiram mais anos de vida dos brasileiros”, mostrava a Folha de S.Paulo. “Governo quer abater dívida rural de quem reflorestar”, afirmava seu grande concorrente, O Estado de S. Paulo, referindo-se ao Código Florestal.
É fato que ambos os temas vão muito além da ciência, o que reforça a tese de que, especialmente hoje em dia, a divulgação científica não pode prescindir de seu caráter transdisciplinar. E assim precisa ser, caso contrário muito dificilmente fará frente a setores em geral de maior interesse dos brasileiros, como esportes, política e economia. Faz-se necessário aproximar a ciência do cotidiano de nossa população.
Temas de ciência pura – se é que isso existe – até podem chamar a atenção de muita gente, mas efetivamente interessam a poucos. Quantos de nós queremos saber os detalhes de uma estrela ou de um planeta distante recém-descoberto, ou então de uma partícula subatômica? Não devemos desprezar assuntos como estes, um tanto mais áridos para o público dito leigo, mas mesmo eles só arrebanharão mais mentes quando forem apresentados de maneira mais palatável para a maioria.
Sobre os temas que ganharam as capas dos dois jornais citados na última terça, por ora lanço apenas algumas indagações. Diz a Folha que “mudanças no estilo de vida e o envelhecimento da população causam mais transtornos psiquiátricos”; isso explica tudo? Como, então, tornar nossa vida mais saudável ou, então, menos “transtornável”? Não é hora de tentarmos corrigir esse e outros problemas na fonte, em suas causas, e não apenas tentar contornar ou controlar os seus efeitos?
Quanto ao Código Florestal, já muito comentado nos diferentes meios de comunicação, e que talvez venha a ser votado nos próximos dias, o que mais tenho visto são números: tantos metros pra cá, outros tantos hectares pra lá, e agora bilhões de reais acolá. Não seria melhor priorizar as qualidades, em vez das quantidades? Pelo jeito, já é tarde demais.