Embora uspiano de origem, e ainda me sinta como tal, pouco tenho ido à Universidade de São Paulo e mesmo conversado com amigos que lá trabalham ou vão à Cidade Universitária com mais frequência do que eu. Ainda assim, ante a preocupante situação deflagrada com a prisão, pela Polícia Militar, de estudantes que fumavam maconha, em outubro – e cujo ápice talvez tenha sido a ocupação do prédio da reitoria pela PM, com a posterior detenção de dezenas de alunos que se alojavam nesse edifício, nesta terça-feira –, sinto-me no dever de emitir algumas palavras.
Tenho, até o momento, três certezas. A primeira é a de que não há nem vilões nem mocinhos nessa história e o que mais tem faltado, na maioria das análises e comentários que tenho visto, são discernimento e equilíbrio, a fim de que se possa alcançar um mínimo de consenso.
Mesmo que tenham cometido um ato ilícito, ao invadir e ocupar a reitoria, estou certo de que nem todos os estudantes que ali se encontravam merecem ser tachados de vândalos ou arruaceiros, bem como de marionetes de partidos ou facções políticas, ainda que se possa dizer que cometeram um erro, independentemente de suas intenções, por melhores que fossem.
Penso que também não se pode confundir a questão da presença da PM no campus com outras referentes à gestão de João Grandino Rodas, reitor da USP desde janeiro de 2010. Não tenho elementos suficientes – especialmente pelo que disse no início deste texto – para avaliá-la, mas o que chega aos meus ouvidos até o momento é que a maioria das medidas tomadas por Rodas é no mínimo controversa, e talvez essa avaliação esteja distorcendo o debate relativo à presença dos policiais militares na Cidade Universitária.
A segunda certeza que tenho é de que algum policiamento mais intenso que aquele que havia antes da chegada da PM, feito então pela guarda universitária, é extremamente necessário. O assassinato, em maio, de um estudante da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) não foi o primeiro – há poucos dias um amigo me lembrou de um assalto a uma lanchonete da ECA (Escola de Comunicações e Artes) que resultou na morte de seu proprietário, isso ainda nos anos 1990. Ademais, os roubos e furtos, especialmente de carros, já se tornavam frequentes, e também sempre se comentou muito de casos de estupro nos bosques fechados e – à noite – escuros do campus.
O que questiono é se o modelo de policiamento na Universidade de São Paulo deve ser o mesmo de outros locais da cidade. Se a PM se preocupar em prender todo estudante que fuma maconha na USP, haja camburão! Melhor tentar combater o tráfico da erva e outras drogas fora dos muros uspianos. Estou certo de que um modelo semelhante à polícia comunitária, que conheça mais a fundo o cotidiano do lugar que se procura proteger, feito pela própria Polícia Militar em bairros como o Jardim Ângela, é bem mais apropriado e será menos passível a conflitos como o que vem ocorrendo.
Por fim, a terceira certeza: por mais justa que seja a causa, invadir e ocupar prédios públicos – e mesmo privados – em pleno funcionamento é um dos piores recursos de que se pode lançar mão para se manifestar e protestar. (Algo bem diferente do que fizeram os sem-teto, dias atrás, também em São Paulo, visto que se tratava de edifícios desocupados invadidos por gente que justamente não tem onde morar.) É preciso encontrar formas mais criativas, eficazes, envolventes e que não prejudiquem outras instâncias da USP ou de quaisquer outras instituições.
Espero, enfim, que volte a haver paz na Universidade de São Paulo, em todos os sentidos, e que o entendimento se faça por meio do debate saudável e produtivo, em que cada parte se disponha a ceder um pouco para se alcançar um bem maior.
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