sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Natal

Mahatma Gandhi, que não era formalmente um cristão, chegou a afirmar que, se todos os livros da humanidade fossem destruídos, mas restasse o Sermão da Montanha, nada teria se perdido.

Outro eminente luminar do hinduísmo, Paramahansa Yogananda, em sua sublime Autobiografia de um iogue, se refere a Jesus de Nazaré não poucas vezes, destacando o valor de sua mensagem e chamando-o de Cristo, ainda que tenha havido outros cristos – palavra que significa “ungido” em grego.

Amado por muitos, renegado ou desprezado por outros, Jesus é sem dúvida a figura da história de nossa humanidade mais citada e interpretada – e não apenas no contexto religioso, mas também, embora em menor intensidade, nos meios filosófico, artístico e científico, bem como no dia a dia de bilhões de pessoas.

Tenha ele nascido ou não num dezembro de cerca de 2010 anos atrás (há controvérsias entre os historiadores, seja quanto ao mês ou ao ano), seja ele ou não um filho dileto de Deus, um ser mais evoluído que os demais ou um lúcido revolucionário, penso que sua mensagem, presente nos textos dos evangelistas, deve ser estudada com a mesma seriedade com que se analisam os escritos de um Shakespeare, um Cervantes ou um Guimarães Rosa, sem fanatismos ou concepções pré-formuladas.

É preciso discernir o que disse e fez Jesus, a despeito da ganga deixada pelas traduções, daquilo que, ao longo de todos esses séculos, já se falou sobre ele ou se fez em nome dele. Penso, porém, que propostas como “amar aos outros como a si mesmo”, “reconciliar-se com seu inimigo” ou “retirar a trave de nossos olhos antes de apontar ciscos nos olhos dos outros”, ainda que aparentemente pouco factíveis, constituem preciosidades de nossa humanidade e metas que devemos lutar por atingir, por mais árduo que seja e mesmo que verbos como “amar” ou “reconciliar-se” adquiram conotações diferentes das que costumamos usar.

Sigamos ou não uma religião, se procurarmos seguir o roteiro apresentado por Jesus de Nazaré, seremos efetivamente cristãos, como Gandhi e Yogananda o foram, mesmo seguidores de outras crenças. Não se trata de religião; trata-se de ética, de respeito para com nossos semelhantes, de regras de boa convivência, de viver dignamente e enxergar a vida de uma maneira menos materialista e mais plena de sentido.

A todos os que comemoram o Natal, desejo uma noite de 24 para 25 de dezembro muito feliz, com muita saúde, paz e harmonia, não deixando nunca de ter em nossas mentes e corações a bela mensagem do rabi da Galileia, algo que vale mais do que o mais valioso dos presentes que possamos ganhar.

Um comentário:

  1. Mauro,

    Parabéns pelo belo post. Uma das frases emblemáticas de Gandhi serve muito bem como guia moral para qualquer pessoa, tenha ela religião ou não. Disse ele: "devemos ser a mudança que queremos ver no mundo." É isso que está nos faltando.

    Um abraço
    Guilherme

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