segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Por água abaixo

Ainda que a Rede Globo tenha em suas costas incontáveis casos de subserviência aos sucessivos governos brasileiros, a despeito – é preciso ser justo – de sua significativa contribuição à arte e ao jornalismo nacionais, vi com grata surpresa o Globo Repórter da última sexta-feira, 02 de dezembro, que retratou um pedaço da Amazônia que sumirá do mapa por vontade das gestões Lula-Dilma e seu PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).

O Brasil precisa de energia, é verdade, mas me angustia saber que novos Jiraus e Belos Montes estão na pauta do governo, devastando milhares de quilômetros quadrados de terras amazônicas, para infelicidade das faunas e floras locais, bem como das populações das regiões afetadas e, penso, de todo o país. E fizeram bem o repórter Ciro Porto e equipe da EPTV, afiliada da Globo no interior paulista, em mostrar áreas no entorno do rio Tapajós, incluindo o Parque Nacional da Amazônia, que serão inundadas pelos reservatórios de três das 22 usinas hidrelétricas previstas para a região Norte até 2019.

Ao se assistir ao programa, fica a sensação de que não vale a pena perder tamanha preciosidade em florestas, animais e cultura humana em prol do aumento da produção de eletricidade, especialmente se pensarmos no potencial solar e eólico de que dispomos, que poderia ser aproveitado com microusinas instaladas em nossas próprias casas – as quais, infelizmente para alguns, não mobilizariam empreiteiras e afins, nem movimentariam vultosas quantias de dinheiro.

O único grande senão ao programa foi ter considerado a construção das usinas meras favas contadas, sem que nada possa ser feito para impedi-la ou diminuir ao máximo seus danos ao meio ambiente. Mas já foi um bom avanço, quem sabe rumo a um novo patamar das discussões em torno do tão afamado desenvolvimento sustentável.

A referida edição do Globo Repórter pode ser vista na página “Reservatórios de usinas no Norte ocuparão área 3 vezes maior que SP”.

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